Insights
Clube de Leitura Morama – Pequenas apostas
As inspirações vêm de diferentes formas e momentos. Na Morama, uma das práticas que temos para aumentar repertório é o Clube de Leituras, em que todo mês escolhemos um título para ler em conjunto e discutir os aprendizados. Essa foi uma iniciativa simples, de fácil execução e com alta efetividade. Foi adotada, testada e vem sendo adaptada por nós, o que tem tudo a ver com o livro desse mês: Little Bets, de Peter Sims.
O livro é uma tentativa de entender os métodos de trabalho, de inovação experimental, e de processo criativo utilizadas em diversos segmentos. “Criatividade é conectar coisas” – e para conectar, é preciso ter repertório: livros, filmes, séries, mas muito e principalmente, vivências em diferentes lugares e ambientes.
As pequenas apostas trazidas por Sims demonstram práticas ágeis e participativas, que podem auxiliar no desenvolvimentos de novas ideias de forma a otimizar tempo, materiais, e investimento financeiro. Nos próximos parágrafos, trazemos a nossa visão para os principais fundamentos das “little bets”.
“Se eu encontrar dez mil maneiras de algo não funcionar, eu não falhei. Não estou desanimado, porque cada tentativa errada descartada é apenas mais um passo à frente”
Thomas Edison.
1# Experienciar, aprender fazendo
A fase de ideação dos projetos é o momento em que temos a oportunidade de expandir a criatividade a partir de movimentos que inspiram aceitação e incentivo. O objetivo é fazer esse momento ser mais colaborativo e convidativo para que seja melhor aproveitado em toda a sua potência.
A co-criação, envolvendo pessoas diversas, traz mais visões de mundo para a mesa de trabalho. É na troca entre o grupo que surgem as novas ideias ou então que se aprimoram aquelas que já foram colocadas.
A prototipagem é uma das maneiras mais eficazes de impulsionar nosso pensamento e orientar, inspirar e disciplinar uma abordagem experimental. Apresentar às pessoas um protótipo simples incentiva elas a contribuir com – e testar – mais alternativas.
2# Brincar e ser leve durante o processo
“Criar uma atmosfera que permita a brincadeira e a improvisação é uma das formas mais efetivas para inspirar a experimentação que leva às melhores ideias e insights.”
A improvisação é um dos melhores recursos para criar um ambiente de liberdade criativa. A ideia é tirar de cena qualquer mecanismo de censura, afinal, quando uma pessoa se sente julgada, o cérebro naturalmente cria barreiras criativas, com dúvidas e inseguranças, impedindo o desenvolvimento da improvisação e da criatividade.
Com o ambiente propício, pode-se oportunizar o estado de flow que, segundo o autor, é o momento em que estamos completamente imersos em uma atividade. Quando nos despimos do ego e concentramos as nossas habilidades e a nossa atenção naquele tempo e espaço. A comparação feita no livro é com o momento de improviso de uma banda de jazz, mas para cada pessoa, uma atividade desperta o flow – seja escrita, desenho, esporte, planejar um novo projeto ou então o trabalho do dia a dia.
3# Imergir no contexto, interagir com as pessoas
Esse é um dos fundamentos com o qual mais nos identificamos na Morama, afinal, é uma das práticas que aplicamos constantemente nos nossos projetos. Temos a convicção de que a pesquisa, e principalmente as conversas em forma de entrevista, que fazem parte, são a base para um trabalho de marca sólido e efetivo.
A antropologia é trazida como atividade central para a exploração e o desenvolvimentos de respostas para os negócios. Imergir em uma realidade desconhecida, mas pretendida, é fundamental para entender como fazer parte dela de forma efetiva, relevante e com maior aceitação de quem já está lá. O olhar de fora (bird’s-eye na linguagem do autor) perde detalhes e particularidade que só conseguimos ver quando estamos dentro do ambiente (worm’s-eye), vivendo, conversando e principalmente, fazendo as perguntas certas.
Um dos trechos mais interessantes é uma história muito difundida que conta sobre a descoberta de Muhammad Yunus. A partir da vivência antropológica, ele observou que mais de 40 famílias de Bangladesh, estavam vivendo ganhando 2 centavos por dia, por não terem a possibilidade de pagarem juntas o total de 26 dólares para financiar o produto com o qual trabalhavam. Assim, ele abriu o Grameen Bank, primeiro banco de microfinanciamentos, que teve como primeiro financiamento os 27 dólares, e liberando essa população da dependência de mediadores exploradores que controlavam a economia da região.
“Absorvendo a pobreza através dos “worm’s-eye views”, fazendo muitas perguntas, e estando aberto a mudar suas suposições, ele pode entender o que ele não conseguiu pelas “bird’s-eye view”.”
Outros exemplos vem da Pixar, que faz imersões, viagens e vivências para desenvolver suas animações: a produção de “Cars” viajou pela Rota 66, visitou locais de carros antigos e novos e teve conversas com especialistas. Já a produção de “Nemo” foi ao aquário de Nova York, ter aulas e entender as particularidades das diferentes espécies de peixes e seres marinhos, além da forma com que a luz entrar na água em diferentes profundidades.
4# Definir problemas e necessidades reais e relevantes
O que você diria se alguém afirmasse que “saber identificar problemas se sobrepõe a saber somente pensar em soluções?” Essa é a provocação desse fundamento. Sims afirma que quando falamos em pessoas mais criativas, elas são mais “problem finders” – achadores de problemas – do que “problem solvers” – solucionadores de problemas. Isso se dá especialmente quando se aplicam metodologias ágeis, que trazem a propotipagem e o teste para o dia a dia de trabalho.
Identificar problemas e necessidades reais, que fazem parte da vida diária das pessoas e que impactam em suas experiências e relações, é o que realmente pode oferecer valor. A partir dessa premissa, a habilidade de encontrar problemas passa a ser relevante durante todas as etapas de um projeto, afinal, é prototipando, testando e fazendo pequenas apostas, que se identifica o que pode ser mudado, antes do desenvolvimento final acontecer.
Dessa forma, no lugar de um grande problema com grandes investimentos para construir a sua solução e desenvolvê-la completamente; você a divide em pequenos problemas – que podem passar despercebidos olhando somente a versão macro – com investimentos possivelmente menores. É o smallifying: “o ato de quebrar um projeto em discretos e relativamente pequenos problemas para serem resolvidos”.
5# Repetir, refinar e testar com frequência
A diferença entre grandes e pequenas apostas, é que a primeira está com o olhar em grandes mercados, onde está o dinheiro, uma estratégia baseada nos concorrentes. A segunda é baseada na identificação de novos problemas e necessidades específicas, como por exemplo a fabricação de apenas mil calculadoras científicas HP para teste e, após o sucesso, o lançamento como produto de sucesso.
Como um mantra, repetir, refinar e testar com frequência faz parte de qualquer pequena aposta. Ao agir com base nelas, estamos determinando antecipadamente o quanto se pode ou se está disposto a perder (perdas acessíveis/aceitáveis). As perdas contribuem para a construção de algo maior. Ser imperfeito é essencial para o sucesso.
É preciso saber aprender com os acertos e fracassos. Praticar pequenas apostas nos liberta da expectativa de que devemos saber tudo antes de começar.
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Esses cinco pontos podem ser seguidos, adaptando-se a cada projeto, de cada marca. Eles podem crias as condições necessárias para que novas ideias emerjam e possam ser aplicadas. os aprendizados vindos de pequenas apostas podem se transformar em energia para que coloquemos em prática projetos engavetados ou de estruturas infladas, aos poucos, seguindo o fluxo e adaptando-se ao longo do processo. Afinal, o que entendemos por “longo prazo” está cada vez mais curto.
“…novos problemas , ideias, necessidades e desejos não são óbvios: eles estão escondidos abaixo da superfície.”
Como mais uma forma de inspirar a agir, 4 princípios do Manifesto Ágil, de 2001:
- Indivíduos e interações mais que processos e ferramentas;
- Software em funcionamento mais que documentação abrangente;
- Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos;
- Responder a mudanças mais que seguir um plano.
Esse texto faz parte do Sementes de Morama [micro conteúdos pensados para informar, provocar e movimentar].